Diagnóstico da comunidade: protegendo a saúde dos ecossistemas de informação da América Latina

Barbara Paes

No dia 23 de novembro, realizamos a segunda chamada comunitária do nosso projeto voltado para a construção de um ecossistema de informação mais saudável e robusto na América Latina e no Caribe. Contamos com a presença de 20 participantes de 10 países da região e tivemos uma conversa coletiva sobre as diferentes maneiras pelas quais cada participante e suas organizações estavam trabalhando para fortalecer esse ecossistema e sobre os desafios que estavam enfrentando. 

Agradecemos a todas as pessoas que vieram compartilhar suas perspectivas e conhecimentos com o grupo. Nesta publicação, compartilhamos alguns dos principais temas que surgiram dessa conversa.

“Se os atores que estão prejudicando o ecossistema de informação são muito bons em colaborar uns com os outros, nós temos que ser ainda melhores”

Ao falar sobre como o ecossistema de informações na região poderia se fortalecer, participantes rapidamente apontaram a necessidade de mais colaboração entre os diferentes atores que estão trabalhando para criar ecossistemas de informação mais saudáveis. 

Há muitas semelhanças em termos dos desafios que a sociedade civil enfrenta no ecossistema de informações em toda a região – seja a existência de grupos coordenados que perpetuam a desinformação ou os governos locais que implementam estratégias semelhantes para restringir a organização da sociedade civil. Para responder a esse contexto, participantes da chamada mencionaram o desejo de ter espaços multidisciplinares onde aqueles que trabalham em prol da justiça social possam dialogar sobre os desafios comuns que estão enfrentando no ecossistema de informação, compartilhar estratégias e projetos em que estão trabalhando e, por fim, combinar esforços e trabalhar em projetos juntos.

Embora a colaboração tenha sido apontada por participantes como algo necessário no espaço, as pessoas presentes também compartilharam como pode ser difícil garantir recursos de longo prazo para viabilizar a colaboração regional e/ou intersetorial. Participantes de países como Brasil, Argentina e Colômbia falaram sobre como colaboração significativa exige muito tempo e coordenação – “para criar confiança, consolidar relacionamentos, encontrar alinhamento” – e pode ser difícil garantir financiamento para realizar as atividades e o trabalho de formação de alianças, que às vezes é visto como “invisível” e/ou “não urgente”.

Ameaças à sociedade civil e machismo como características preocupantes dos ecossistemas de informação na região 

Durante nossa conversa, participantes também indicaram o impacto que governos com tendências autoritárias têm tido sobre o ecossistema de informação na região. Compartilharam que têm lidado com vigilância governamental, censura em plataformas digitais e, ocasionalmente, com a disseminação de desinformação proveniente de agentes estatais. Uma das pessoas presentes, que trabalha com saúde e direitos sexuais e reprodutivos, por exemplo, relatou que, embora trabalhe em nível regional, seu conteúdo nas mídias sociais foi removido a pedido de um governo municipal em um dos países em que trabalha, mostrando o impacto que os governos locais podem ter sobre o ecossistema de informações de forma mais ampla.

Várias participantes descreveram como as expressões de machismo, inclusive a violência baseada em gênero e a desinformação de gênero, são características definidoras do ecossistema de informação na América Latina. Por exemplo, uma pessoa descreveu como ela testemunha uma grande quantidade de desinformação sobre saúde e direitos sexuais e reprodutivos e, em seu trabalho, enfrenta problemas significativos, como censura e ataques digitais. Outra pessoa que trabalha para compartilhar conteúdo audiovisual sobre dissidências sexuais e de gênero na América Latina também relatou enfrentar censura no processo de compartilhamento de seu trabalho. Para quem participou da nossa conversa na semana passada, a construção de um ecossistema de informações mais saudável e robusto na região exige o combate a esses tipos de violência de gênero.

Construindo pontes e compartilhando conhecimento para um ecossistema de informação mais forte

Durante a chamada, participantes falaram sobre o aproveitamento das tecnologias digitais (bem como o uso de outras estratégias relevantes!) para se comunicarem entre si e criarem pontes entre diferentes setores e áreas de trabalho, o que inclui a construção de conhecimento coletivo sobre habilidades como comunicação, segurança e dados digitais, direitos digitais e muito mais. Para isso, assim como na chamada comunitária anterior, participantes destacaram a importância de trabalhar para melhorar os ecossistemas de informação em nível local, promovendo um senso de comunidade e respondendo às necessidades de informação de suas comunidades.

Algumas das iniciativas inspiradoras que conhecemos durante a chamada e que estão trabalhando para fortalecer seus ecossistemas de informações locais incluem:

  • Taturana, uma organização brasileira de distribuição de filmes que trabalha com mediadores locais para tornar os filmes de impacto social mais acessíveis; 
  • DataLabe, um laboratório de narrativa e dados da Maré, no Rio de Janeiro; 
  • Escuela Audiovisual al Borde, organizada pela Mujeres Al Borde para ajudar as pessoas a criarem suas próprias narrativas e conteúdo; 
  • Nós Mulheres da Periferia,  um veículo jornalístico liderado por mulheres negras no Brasil; 
  • O projeto circuito.digital da Linterna Verde, por meio do qual eles ajudam as organizações a entender os problemas de moderação de conteúdo e a documentar casos;   
  • LatFem, uma mídia feminista nativa digital que trabalha para fornecer informações de qualidade na região; 
  • …e muitas outras iniciativas (que continuaremos a compartilhar em nosso blog nos próximos meses!)

Participantes também falaram sobre o apoio e o investimento no trabalho realizado por organizações indígenas, quilombolas e lideradas por pessoas negras como algo crucial para ter ecossistemas de informação locais mais fortes na região.

Próximos passos e como você pode se envolver

Durante as próximas semanas, entrevistaremos pesquisadores, comunicadores, jornalistas, profissionais de mídia cívica, defensores de direitos digitais e ativistas de justiça social que trabalham para criar ecossistemas de informação melhores na América Latina e no Caribe. Também realizaremos outra chamada comunitária para este projeto no início de 2024 – fique de olho em nosso blog e boletim informativo (em inglês) para obter mais informações sobre como se juntar a nós!

Como parte desse projeto, nossa equipe está oferecendo suporte gratuito de tecnologia e dados para organizações de justiça social, ativistas e jornalistas. Se estiver interesse, é só marcar uma chamada conosco.

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